O mundo inteiro acompanhou, na semana passada, o desfecho da caçada do criminoso brasileiro Danilo Cavalcante nos EUA. Após duas semanas foragido, depois de escapar da prisão onde cumpria pena perpétua por assassinar a namorada, o fugitivo foi localizado e capturado por um cão policial da unidade K9 da patrulha tática de El Paso, Texas. Yoda, um macho de 4 anos é da raça pastor belga Malinois, considerada pelas forças policiais de todo o mundo como a mais versátil e eficiente para esse tipo de operação. O código K9 é utilizado por forças policiais de todo o mundo que utilizam cães. É uma referência ao termo “canino” em inglês, “ca (k), nine (9)”.
Para saber mais sobre os policiais caninos, o Jornal de Brasília visitou o Batalhão de Policiamento com Cães da Polícia Militar do Distrito Federal (BPCães). E, de acordo com o comandante da unidade especializada, Major Carlos Reis, dos 48 cães policiais do canil da PMDF, cerca de 40 são pastores belgas Malinois. “O policiamento com cães trabalha na busca de narcóticos, explosivos e para localizar pessoas desaparecidas e foragidos da lei. Na operação norte-americana para localizar o meliante, o uso de cães policiais dessa raça específica era realmente o mais indicado. A eficiência dos K9s não surpreendeu quem trabalha nesta área”.
A tenente Julie acrescenta que essa raça específica predomina na maioria das forças policiais do mundo. A razão, segundo a oficial, “é porque esses animais têm um porte menor, são ágeis e podem ser empregados em vários tipos de policiamento, como captura, proteção e detecção”.
Os cães são avaliados e tratados periodicamente por veterinários e recebem um cuidado especial com alimentação e hidratação. Ao contrário de outros batalhões, a tropa canina precisa de mais tempo para responder às ocorrências. “Os policiais-condutores ficam prontos em poucos minutos. Mas é preciso levar comida e água fresca para os cães e acomodá-los com calma nas viaturas para não estressá-los. Além de tomarmos todo o cuidado durante o deslocamento até a ocorrência”, justifica o major Carlos Reis.
Segundo ele, praticamente não há acidentes registrados envolvendo as 14 viaturas do BPCães. “A velocidade é muito baixa e o cuidado redobrado por parte dos condutores nos deslocamentos”, completa.
Cão farejador não é viciado
O senso comum de que os cães farejadores são viciados em drogas ou em substâncias encontradas em explosivos é falso, segundo a tenente Julie. Nos treinamentos para localizar narcóticos ou bombas, a PMDF usa pequenas porções, hermeticamente embaladas em recipientes apropriados que impedem todo e qualquer contato do animal com o entorpecente.
A oficial explica que o cheiro de cada substância é isolado e apresentado de maneira segura ao cão policial. “Em nenhum momento, os cães têm qualquer contato direto com drogas ou explosivos”.
Ela ressalta ainda que o treinamento dos cães é motivacional e fundamentado no “reforço positivo”. “Ensinamos o cão a farejar e ser recompensado. Para o animal, procurar uma substância ou uma pessoa desaparecida é como uma brincadeira, algo divertido. Assim que eles concluem a missão, recebem um petisco, um brinquedo, um carinho por parte do condutor”, explica.
Ou seja, de acordo com a militar, o cão aprende a farejar a droga criando conexões entre o odor exalado pelas substâncias e a recompensa que ele ganhará após encontrá-la.
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Um K9 para chamar de seu
Para trabalhar com cães, o militar precisa ingressar no concorrido Curso Operacional de Cinotecnia, que ocorre a cada ano ou ano e meio. Na 38 edição do curso, que ocorre atualmente, e tem duração de três meses, há policiais do DF e de vários estados brasileiros. Mas, de acordo com o comandante do BPCães, major Carlos Reis (foto), ingressar no curso não é garantia de conseguir a almejada especialização. Além de ser preciso dominar todas as técnicas policiais é preciso, principalmente, demonstrar amor e cuidado pelos animais.
“Ao longo do curso, o policial é totalmente avaliado. Suas habilidades policiais, sua capacidade física, mas, sobretudo, a paciência e a vontade que ele tem de lidar com o animal. Porque, além de sermos policiais, precisamos treinar os cães, o que demanda muito amor pelo bicho, tempo, vontade e dedicação. Por isso, nem todos conseguem se formar”.
De acordo com a tenente Julie, a cada edição do curso, a PMDF abre edital para oferecer adestramento aos cães de civis. Eles são treinados pelos alunos inscritos e, ao fim das instruções, são devolvidos aos proprietários “praticamente como um K9”.
“Abrimos, eventualmente, uma seleção por edital para que a população tenha a oportunidade de ter seus cães treinados pelos alunos do BPCães. No edital, há várias especificações que precisam ser obedecidas. Entre elas, os cães devem ter, no mínimo, 12 anos, e terem todas as vacinas em dia. E, principalmente, os tutores, em um primeiro momento, não podem ter contato direto com os animais para minimizar a saudade entre tutor-cão, mas em algum momento as visitas são liberadas. O melhor é que eles receberão os cães de volta praticamente com um K9 da Polícia Militar”.
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A oficial diz também que a cada edição do curso, cachorros de abrigos são selecionados para o treinamento e, posteriormente, poderão ser adotados pela comunidade. “Nessa edição, temos cinco cães dessa procedência”, completa.
Bikerrepórter é atacado por cães e encontra drogas com patrulha canina
Em simulação no BPCães da PMDF, o bikerrepórter do Jornal de Brasília, Afonso Ventania, foi imobilizado por dois pastores belgas de Malinois, raça usada na operação de busca que capturou o fugitivo brasileiro Danilo Cavalcante na semana passada, nos Estados Unidos. A intenção era conhecer de perto como agem esses cães nesse tipo de operação.
Ventania também acompanhou também operação tática de busca e rastreamento de narcóticos e de foragidos, conhecida como “varredura de ambiente”. Na simulação, o bikerrepórter embarcou em uma viatura com três policiais e dois cães para encontrar entorpecentes em um campo interno no próprio quartel, localizado no Setor Policial Sul.
Após desembarcarem com suas armas, os policiais selecionaram o pastor belga malinois, Drago, para encontrar a droga. O Sargento Silton, condutor do animal, deu o comando e, em menos de três minutos rastreando uma grande área com seu olfato super desenvolvido e treinado, Drago encontrou um pequeno depósito lacrado onde estava o narcótico.
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“Essa simulação mostra um pouco da nossa rotina diária. É comum encontrarmos traficantes que não estão portando a droga. Eles escondem em ambientes escondidos no entorno deles para tentar evitar a abordagem. Se identificamos um suspeito, o uso do cão otimiza a abordagem policial para fazer a varredura do ambiente e encontrar possíveis narcóticos ou até explosivos”, explica o tenente Alves, oficial responsável pela guarnição.
Aposentadoria
Como qualquer policial militar, os cães também passam para a “reserva”, ou seja, se aposentam, depois de um período pré-estabelecido servindo à corporação. A PMDF concede o direito à aposentadoria aos cães policiais, depois de oito anos de prestação de serviços à população. Se o animal apresentar alguma doença ou alteração comportamental, a aposentadoria é antecipada.
Ao se aposentarem, os cães podem ser adotados pelos seus condutores. Caso ele não possa, algum outro policial da unidade K9 ganha o direito à posse. O pastor belga Malinois, Drago, já tem sete anos de serviço e o seu condutor, o sargento Silton, não vê a hora de levá-lo para casa. “Ele já tem o lugar dele garantido na minha casa. Estou ansioso”, diz, emocionado.
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