A incerteza sobre a eficácia da política fiscal do governo federal para reequilibrar as contas públicas, associada à uma inflação ainda desafiadora, dificulta muito a tarefa de projetar uma trajetória consistente para o corte da taxa básica de juros (Selic).
A constatação foi o ponto alto do debate em torno da questão monetária, durante o 3º Seminário de Análise Conjuntural, realizado, nesta quinta-feira (14), pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), em parceria com o Estadão, cujo tom se afastou muito de uma expectativa ‘otimista’ em relação à economia nacional.
Ao observar que a inflação continua ‘fora da meta central’ (fixada em 3,25% pelo Conselho Monetário Nacional – CMN) e que o prazo para o seu controle continua indefinido, o chefe do Centro de Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia da fundação (Ibre/FGV), José Júlio Senna considera ‘difícil’ que a Selic encerre o ano abaixo de 10% ao ano.
Em outro ponto de sua preleção, Senna aponta os recorrentes questionamentos sobre a capacidade do Executivo de equilibrar receitas e despesas federais como o fator determinante para que se alongue, cada vez mais, o vencimento dos juros dos títulos públicos.
“Isso significa que os participantes do mercado estão exigindo o que sempre exigiram. Não é uma situação confortável e, enquanto houver incertezas sobre as contas públicas, a coisa pode se agravar”, previu Senna, sem esconder o ceticismo quanto à possibilidade de a Selic recuar ao patamar inferior a um dígito, ao cabo do ciclo de flexibilização monetária em curso.
Já o expediente adotado pelo Planalto, no sentido de recorrer ao aumento da arrecadação para atingir o equilíbrio fiscal, é considerado uma ‘falsa solução’ pelo pesquisador associado do Ibre/FGV, Armando Castelar, ao adiantar que a medida deverá provocar ‘impacto negativo no crescimento’ do país.
“A forma como estão sendo resolvidas questões de natureza política, seja a aprovação da reforma tributária, seja a questão fiscal via aumento de carga tributária, é bastante ruim do ponto de vista de crescimento do país”, disse, ao acrescentar que o aumento de carga de impostos significa menos produtividade, mais informalidade e menor crescimento. “É uma falsa solução”, dispara Castelar.
Também ‘fora do horizonte’, para a coordenadora do Boletim Macro do Ibre/FGV, Silvia Matos, estaria o retorno dos chamados ‘superávits primários, como também o prazo que marcaria a queda dos juros de rolagem da dívida pública. “Todo o processo de redução da dívida depende da recuperação do superávit primário e de juros de rolagem da dívida mais baixos. Não conseguimos ver esses dois componentes no radar. Basicamente, a dívida vai subir”, concluiu Silvia.