O último relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos sobre a crise social no Haiti trouxe dados alarmantes da situação do país mais pobre das Américas.
O documento mostra que pelo menos 2.439 pessoas foram mortas por gangues no país neste ano, até o dia 1º de agosto. Além disso, 902 ficaram feridas e 951 foram sequestradas por criminosos.
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O órgão da ONU afirmou que as gangues queimam corpos em público e compartilham as fotos nas redes sociais. As mulheres também são alvo frequentes. As haitianas têm sido expostas a violências sexuais, como o estupro coletivo.
Além disso, as crianças do país passaram a ser recrutadas para agirem como mensageiras das quadrilhas.
O comunicado da Organização insistiu que a Polícia Nacional do Haiti aceite receber ajuda de outros países para conseguir combater o crime organizado e o tráfico internacional de armas, drogas e pessoas.
O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, ainda pediu que as autoridades haitianas exerçam uma supervisão rigorosa das despesas públicas para prevenir a corrupção no país.
“O longo histórico de crises e interferências não admite mais propostas de soluções já desgastadas, que não trazem benefícios concretos e duradouros ao povo do Haiti.”
Além disso, Türk também solicitou que o governo apoie todos os esforços do poder judicial para que sejam realizadas investigações sobre suspeitos de corrupção.
A avaliação do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, é que a crise do Haiti se agravou “ainda mais” no último ano.
Para o professor de relações internacionais da ESPM, Roberto Uebel, há desatenção da comunidade internacional com a crise, principalmente de organismos regionais.
“Me parece que também há uma ausência dos países da Organização dos Estados Americanos (OEA). O Haiti é um membro da OEA, então faltam iniciativas para amenizar os conflitos na região. A comunidade do Caribe também poderia atuar mais no país, que é caribenho. Não vejo participação desses grupos para a reconstrução do Haiti como país”, disse o professor.
Em um dos recentes episódios de violência, na última terça-feira (25), homens armados atacaram o Hospital Universitário de Mirebalais, um dos principais centros de saúde que o país ainda tem.
Nenhuma pessoa foi diretamente ferida ou morta no ataque, mas vídeos não verificados nas redes sociais mostraram cenas caóticas com paredes do hospital cheias de marcas de balas.
Estado de caos
Dois anos atrás, em julho de 2021, o então presidente do Haiti, Jovenel Moïse, foi assassinado em casa por um grupo de mercenários formado por ex-soldados colombianos.
Desde então, o país enfrenta um aumento da violência urbana por parte de gangues, que disputam territórios. Dados da ONU mostram que esses grupos controlam de 50% a 80% de toda a capital do país, Porto Príncipe.
Esse cenário de caos dificulta o fornecimento de serviços básicos à população, como saúde e educação, assim como a realização de eleições.
Segundo dados da ONU, mais de 73 mil pessoas já deixaram o Haiti por conta do aumento da violência e mais da metade da população que permanece no país precisa de ajuda humanitária. A taxa de homicídios cresceu 30% desde o ano passado e os sequestros mais que duplicaram.
Terremotos no Haiti
Em 2010, um terremoto de escala 7,0 de magnitude devastou o Haiti. Vários edifícios desabaram, incluindo o palácio presidencial da capital Porto Príncipe. Uma semana depois da tragédia, mais um terremoto atingiu o país, derrubando o que restou das construções que já estavam abaladas.
Estima-se que 250 mil pessoas ficaram feridas, 1 milhão de moradores desabrigados e o número de mortes ultrapassou 100 mil.
Na época, a ONU declarou que foram destinados US$ 1,2 bilhão para ajudar o Haiti. Contudo, o país nunca conseguiu se recuperar depois dessa tragédia.
Cerca de 2 milhões de pessoas passam fome e precisam de água potável para sobreviver. Além disso, os remédios disponíveis não são suficientes para suprir a demanda.
Futuro incerto
As eleições presidenciais estão previstas para acontecer no Haiti até o fim deste ano, mas ainda sem data marcada. Segundo o professor Roberto Uebel, o futuro do país caribenho vai depender se de fato haverá eleições.
O destino da população também passa pela vontade internacional de prestar assistência, que segundo o especialista, não é prioridade no momento.
“O Haiti me parece que está jogado à própria sorte. Não há um modelo de reconstrução para o país como vemos para a Ucrânia, por exemplo. São pesos e medidas diferentes para países que estão em situação de conflito”, afirmou Uebel.
* Com informações de Reuters e CNN
* Sob supervisão de Derla Cardoso