Enquanto isso, passageiros dizem que serviço de transporte coletivo da compradora da Carris é aquém do esperado
Em um site de avaliação de usuários, a Empresa de Transporte Coletivo Viamão Ltda. tem 27 reclamações, nenhuma respondida. “Desrespeito com usuários”, “falta de cumprimentos com horários” e “preço abusivo das passagens” são alguns dos textos publicados por pessoas a respeito do serviço da empresa compradora da Carris, na última segunda-feira. A Viamão vai assumir 20 linhas da até então única companhia pública de transporte coletivo de Porto Alegre, mudança que, a depender da opinião dos usuários, não será para melhor.
“O problema da Viamão é o de que temos que esperar por muito tempo e o ônibus muitas vezes acaba não retornando para a cidade. Ele faz a viagem, entra na garagem e ali permanece. Quando a pessoa perde o ônibus, precisa esperar às vezes 40 minutos para o próximo”, avaliou a despachante Liliane da Cruz, moradora da Parada 40, enquanto aguardava o coletivo no terminal na rua Voluntários da Pátria, junto ao Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), no Centro Histórico da Capital. Ela trabalha em Porto Alegre e fica por volta de 1h30min no ônibus diariamente.
De acordo com Liliane, a única alternativa que resta neste caso é a baldeação, cujos ônibus nem sempre passam nos horários informados pelas linhas. A técnica em Enfermagem Carmen Lobato da Silva, que mora no bairro viamonense de Santa Cecília, classifica a situação como “horrível”. “Complica para o usuário esperar tanto tempo. A linha só faz um trajeto para a cidade, e se perde, a demora fica muito grande”, comentou Carmen.
Também técnico em Enfermagem, Renan Medeiros é morador de Porto Alegre, mas estava indo visitar a mãe em Viamão. “Acredito que deveria ser o contrário, a Viamão absorver os bons exemplos da Carris. É só você andar em um ônibus da Viamão para perceber as janelas batendo. A qualidade do serviço é baixa e, com este movimento, com certeza a passagem vai aumentar. A venda da Carris não foi um movimento correto do prefeito Melo”, afirmou ele.
Procurada para comentar as críticas dos usuários, a Viamão encaminhou nota, afirmando que “é compreensível a existência de reclamações pontuais, porque se referem a casos específicos”, relatou a empresa, acrescentando que isto “não é o padrão do serviço”. “Basta conferir que no indicador de reclamações o índice é inferior a 0,01%, mostrando que o serviço é aceito por 99,99% dos 70 mil passageiros transportados diariamente pela Viamão”, afirmou a companhia. O mesmo se aplica, diz a companhia, em relação às reclamações não respondidas, relativizadas pela empresa, mas às quais a assessoria afirmou que iria verificar o motivo da falta de retornos.
Também procurada, a Prefeitura disse que não irá se manifestar oficialmente sobre o assunto, mas reforçou que é baixo o índice de reclamações formais aos canais próprios da mesma em relação ao serviço da Viamão, e que a Administração em si não realiza este tipo de análise. O que há, ainda de acordo com a Administração do município, é o índice de atrasos, que é inferior a 1%. Já a Câmara implantou uma CPI em 2018 para investigar o número de reclamações que haviam chegado aos gabinetes dos vereadores na ocasião, mas cujos resultados finais apontou apenas melhorias possíveis a serem realizadas no sistema.
Fundada em 1953, a Viamão arrematou a Carris por pouco mais de R$ 109,9 milhões, R$ 100 mil a mais do que o valor mínimo estabelecido pela gestão Melo para os ativos da companhia, como ônibus, terrenos e o direito à concessão do serviço por duas décadas. A outra empresa interessada no edital de desestatização foi a Viação Mimo, de São Paulo, que foi desclassificada do processo por “não ter garantias aprovadas”, segundo a Secretaria Municipal da Fazenda (SMF). A Mimo já avisou que vai decorrer a decisão. Hoje, a Viamão tem 271 ônibus, dos quais 43, prestam serviço ao município de Viamão e outros 228 no sistema metropolitano.